sábado, 27 de junho de 2009

novidade e prazer



por Mihály Csíkszentmihály


Imagine que você deseja criar um organismo, uma forma de vida artificial, dotada das melhores chances de sobrevivência em um ambiente complexo e imprevisível como o da Terra. Você deseja colocar, neste organismo, um tipo de mecanismo que o torne capaz de enfrentar, tanto quanto possível, os perigos imprevisíveis e aproveitar ao máximo as oportunidades que surjam. E como você faria isto? Certamente, iria querer desenvolver um organismo que fosse basicamente conservador, um organismo que aprendesse a extrair as melhores soluções do passado e continuasse a usá-las repetidamente, tentando poupar energia, agindo com cautela, para poder prosseguir com os padrões de comportamentos vivenciados e comprovados.

Porém, a melhor solução incluiria também um sistema de relé, em certos organismos, que oferecesse total suporte, toda vez que eles descobrissem alguma coisa nova ou se deparassem com uma ideia nova ou um novo tipo de comportamento, mesmo quando tais novidades não fossem úteis de imediato. É importante certificar-se de que o organismo não seja recompensado somente nos casos de descobertas úteis, porque senão ele ficaria seriamente prejudicado para enfrentar o futuro, uma vez que nenhum criador terrestre poderá jamais prever os tipos de situações que as espécies de um novo organismo poderão encontrar amanhã, no próximo ano ou na próxima década. Portanto, o melhor seria programar este organismo para que se sinta recompensado perante qualquer nova descoberta, independentemente de sua utilidade imediata. E isto parece ter sido a realidade de nossa espécie ao longo da evolução.

Através de mutações aleatórias, é possível que certos indivíduos tenham desenvolvido um sistema nervoso em que a descoberta de uma novidade estimule os centros de sensação de prazer no cérebro. Da mesma forma que certas pessoas obtêm um prazer mais acentuado com sexo e outras com comida. Portanto, é válido supor que certas pessoas nasçam com um prazer mais acentuado em aprender coisas novas do que outras. É provável que as pessoas que foram mais curiosas quando crianças tenham se arriscado mais, ficando, portanto, mais propensas a uma vida mais curta do que seus companheiros mais arredios. Entretanto, também é provável que aqueles que aprenderam a valorizar as crianças curiosas de seu grupo, protegendo-as e recompensando-as para que atingissem a maturidade e tivessem suas próprias crianças, tenham tido mais êxito do que aqueles que ignoraram as crianças potencialmente criativas de seus grupos.

É verdade que somos descendentes de antepassados que souberam valorizar a novidade, souberam proteger os indivíduos que gostavam de criar, e aprenderam com eles. Por eles terem em seus grupos indivíduos que se dedicavam a explorar e inventar, achavam-se mais preparados a enfrentar as condições de adversidade que ameaçavam sua sobrevivência. Nós também compartilhamos desta tendência de gostar daquilo que fazemos, desde que possamos fazê-lo de uma maneira nova, desde que, ao fazê-lo, estejamos descobrindo ou criando algo novo. É por isto que a criatividade é tão prazerosa, não importa em que área ela seja desenvolvida.

Mihály Csíkszentmihály nasceu numa cidade que pertencia à Itália, mas que hoje pertence à Croácia, embora seja mencionado como um húngaro professor de psicologia. Famoso por seu estudo de felicidade e criatividade e por ter arquitetado a noção de fluxo:



2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. vamos denovo, ehehe
    não concordo com o texto, enfim, vai que to errado! ehheehe

    ^~

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