terça-feira, 30 de junho de 2009

conglomerado ou conglobado

input_output, Temper Faktor e Ío.

Definições são tão importantes quanto azeitonas ou caneleiras, por isto, é importante definir o Teratonia. Teratonia é um conjunto de grupos input_output, Temper Faktor e Ío. Qual é o coletivo de um conjunto de grupos? Coletivo (pleonasmo?) é o que se tem usado como genérico. Coletivo para mim é ônibus, por tanto, em fase efêmera de definição sugiro conglomerado ou conglobado e seja o que o google quiser.
Conglomerado
1 O mesmo que conglobado. 2 Composto de materiais heterogêneos ou de várias fontes. 3 Bot Densamente agrupado. 4 Zool Reunido irregularmente em um ou mais pontos, em vez de ser distribuído uniformemente (pêlos, olhos, manchas etc.). sm 1 Qualquer coisa composta de materiais ou elementos heterogêneos; amontoado. 2 Geol Rocha clástica sedimentar, formada de fragmentos arredondados de rochas preexistentes, na maioria, de tamanho superior a um grão de areia (acima de 2 mm na classificação de Wentworth), unidos por um cimento de material calcário, óxido de ferro, sílica ou argila endurecida.

Grupo Ío

segunda-feira, 29 de junho de 2009

sábado, 27 de junho de 2009

mestre: francis bacon



Head I (1947-48)

novidade e prazer



por Mihály Csíkszentmihály


Imagine que você deseja criar um organismo, uma forma de vida artificial, dotada das melhores chances de sobrevivência em um ambiente complexo e imprevisível como o da Terra. Você deseja colocar, neste organismo, um tipo de mecanismo que o torne capaz de enfrentar, tanto quanto possível, os perigos imprevisíveis e aproveitar ao máximo as oportunidades que surjam. E como você faria isto? Certamente, iria querer desenvolver um organismo que fosse basicamente conservador, um organismo que aprendesse a extrair as melhores soluções do passado e continuasse a usá-las repetidamente, tentando poupar energia, agindo com cautela, para poder prosseguir com os padrões de comportamentos vivenciados e comprovados.

Porém, a melhor solução incluiria também um sistema de relé, em certos organismos, que oferecesse total suporte, toda vez que eles descobrissem alguma coisa nova ou se deparassem com uma ideia nova ou um novo tipo de comportamento, mesmo quando tais novidades não fossem úteis de imediato. É importante certificar-se de que o organismo não seja recompensado somente nos casos de descobertas úteis, porque senão ele ficaria seriamente prejudicado para enfrentar o futuro, uma vez que nenhum criador terrestre poderá jamais prever os tipos de situações que as espécies de um novo organismo poderão encontrar amanhã, no próximo ano ou na próxima década. Portanto, o melhor seria programar este organismo para que se sinta recompensado perante qualquer nova descoberta, independentemente de sua utilidade imediata. E isto parece ter sido a realidade de nossa espécie ao longo da evolução.

Através de mutações aleatórias, é possível que certos indivíduos tenham desenvolvido um sistema nervoso em que a descoberta de uma novidade estimule os centros de sensação de prazer no cérebro. Da mesma forma que certas pessoas obtêm um prazer mais acentuado com sexo e outras com comida. Portanto, é válido supor que certas pessoas nasçam com um prazer mais acentuado em aprender coisas novas do que outras. É provável que as pessoas que foram mais curiosas quando crianças tenham se arriscado mais, ficando, portanto, mais propensas a uma vida mais curta do que seus companheiros mais arredios. Entretanto, também é provável que aqueles que aprenderam a valorizar as crianças curiosas de seu grupo, protegendo-as e recompensando-as para que atingissem a maturidade e tivessem suas próprias crianças, tenham tido mais êxito do que aqueles que ignoraram as crianças potencialmente criativas de seus grupos.

É verdade que somos descendentes de antepassados que souberam valorizar a novidade, souberam proteger os indivíduos que gostavam de criar, e aprenderam com eles. Por eles terem em seus grupos indivíduos que se dedicavam a explorar e inventar, achavam-se mais preparados a enfrentar as condições de adversidade que ameaçavam sua sobrevivência. Nós também compartilhamos desta tendência de gostar daquilo que fazemos, desde que possamos fazê-lo de uma maneira nova, desde que, ao fazê-lo, estejamos descobrindo ou criando algo novo. É por isto que a criatividade é tão prazerosa, não importa em que área ela seja desenvolvida.

Mihály Csíkszentmihály nasceu numa cidade que pertencia à Itália, mas que hoje pertence à Croácia, embora seja mencionado como um húngaro professor de psicologia. Famoso por seu estudo de felicidade e criatividade e por ter arquitetado a noção de fluxo:



quinta-feira, 25 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

categorização

"Tendo em vista que o número de sensações em nosso ambiente é tão maior do que nossa capacidade de processá-las, selecionamos somente aquelas coisas que percebemos como sendo importantes e ignoramos aquelas que não o são. Assim, limitamos nossa faixa de percepção. Para nos ajudar a lidar com todos os fragmentos de dados, valemo-nos de um sistema denominado transformação e categorização. Em outras palavras, transformamos visões, sons e sensações percebidos em conceitos que são armazenados em nossa memória.(...) As categorias nos permitem prosseguir na classificação e armazenamento da informação. (...) Através do processo de transformação e categorização, somos capazes de armazenar quantidades relativamente grandes de dados e informações em nossas mentes, em apenas alguns conceitos e categorias. O esquema de categorização nos permite operar em nosso ambiente, com toda sua complexidade." (SHULTZ, 1993)

uma reflexão sobre criatividade e livre arbítrio (PETER KOESTENBAUM)

Aristóteles acreditava, corretamente, que coragem é a primeira das virtudes humanas, porque ela torna as demais possíveis. Coragem começa com a decisão de encarar a verdade última sobre a existência: o pequeno e sórdido segredo de que somos livres. Isto requer uma compreensão do livre arbítrio no nível arquetípico – uma compreensão de que somos livres para definir quem somos nós a cada momento. Nós não somos o que a sociedade e o acaso fizeram de nós; somos o que escolhemos ser nas profundezas do nosso íntimo. Nós somos produto do nosso arbítrio.

Um dos problemas mais graves na vida é a autolimitação. Criamos mecanismos de defesa para nos protegermos da ansiedade que vem com a liberdade. Recusamo-nos a desenvolver todo nosso potencial. Vivemos apenas marginalmente. Esta é a definição freudiana de psiconeurose: nós limitamos nossa vida para podermos limitar a quantidade de ansiedade que sentimos. Terminamos adormecendo muitas das funções da vida. Nós fechamos os centros empreendedores e o pensamento criativo; como efeito, paramos o progresso e o crescimento. Mas nenhuma decisão significativa jamais foi tomada sem ser seguida de uma crise existencial, ou sem o comprometimento com a marcha através da ansiedade, da incerteza e da culpa.

Este é o significado da palavra transformação. Você não pode apenas mudar o pensamento ou a atitude – você tem que mudar seu arbítrio, sua vontade. Você precisa ganhar controle sobre os padrões que governam sua mente: sua visão de mundo, suas crenças sobre o que você merece e sobre o que é possível. Esta é a zona fundamental da mudança, da força e da energia – e o significado da coragem.Algumas pessoas são mais talentosas do que outras. Algumas receberam educação mais aprofundada do que outras. Mas todos nós temos a capacidade de sermos grandes. A grandeza vem com o reconhecimento de que nosso potencial é limitado apenas pela maneira como fazemos escolhas, como usamos nossa liberdade, o quanto somos resolutos, o quanto somos persistentes – resumindo, pela nossa atitude. E todos somos livres para escolhermos nossa atitude.

ele... ("ele" quem? de quem serão estas palavras?)

"Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser. Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser. Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser. Tudo se separa, tudo volta a se encontrar; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser. Em cada instante começa o ser; em torno de todo o 'aqui' rola a bola 'acolá'. O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade."

duas crianças ameaçadas por um rouxinol


Max Ernst


Grupo Ío.

terça-feira, 23 de junho de 2009

1% restante

Laura Cattani, Paula e Luiza Santos.
Grupo Ío.

ser teratogênico nascido hoje



Equipe de parto: input_output
Formação genética: input_output (33%), Ío (33%) e Temperfaktor (33%)

sequência narrativa (2)



No (por enquanto - quase - fictício) capítulo 1, o sujeito do calendário da Pirelli, um piloto de aeronaves, estaria taxeando em uma pista de aeroporto, surgindo na parte superior do enquadramento e fazendo uma parada na bifurcação da parte inferior do quadro. Depois de pensar um pouco, o comandante (de si mesmo, da própria vida) escolhe virar à direita dele (esquerda nossa), e vai sumindo do enquadramento. Quando o espectador imagina que ele terá ido embora, ele volta surgir, de cima, "descendo" até virar à esquerda dele (direita nossa), passando a traçar uma rota que desenha um 8, desenho este que pode deitar-se num travesseiro branco e macio e assim ficar até a eternidade. Uma nebilna começa a tomar conta da pista, mais e mais, até que só vemos uma fumaça branca na tela. Quando o nevoeiro se dissipa, o Senhor Calendário, que se recusou a fazer um vôo em troca de bilhetes aéreos, já sem o aço do avião e o asfalto da pista, abraça e agarra(-se) (a)a Terra, (a)a Mãe, (a)o Biológico, (a)o Animal, (a)o Transcendente, (a)o Mitológico, porque faz parte disso tudo, é dali que ele vem e é ali que ele voa, deixando marcas de trajetos nesse desktop marrom.

input_output

segunda-feira, 22 de junho de 2009

ruído... por TERMPERFAKTOR





sequência narrativa (1)


Still de um vídeo que será apresentado no Teratonia.
Foto: Laura Cattani. Rapaz do Calendário da Pirelli: Samir Jaime.


Still do vídeo Autotélico, do grupo Ío, que será apresentado no Teratonia III. Este vídeo faz parte de uma instalação chamada Autotélico, que será exposta na Galeria do DMAE a partir do dia 9 de Julho. A exposição se chama (santa redundância, Batman) Autotélico (mais informações, em breve, no blog do grupo Ío).
Contudo, olhando a foto em questão, a mesma induziu-nos à construção de um curioso vínculo narrativo, em que a mesma funcionaria como um misterioso capítulo 2 de um onírico filme, onde a capa do primogênito álbum do input_output, Eu contenho todos os meus anos dentro de mim, seria o fictício capítulo 1.

Grupo Ío

sábado, 20 de junho de 2009

lei municipal de porto alegre sobre o ruído

Decreto 8185

Art. 1° - É vedado perturbar o sossego e o bem-estar público com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza produzidos por qualquer forma ou que contrariem os níveis máximos fixados neste Decreto.

Art. 3°, IV - Ruído: qualquer som que cause ou tenda a causar perturbações ao sossego público ou produzir efeitos psicológicos e/ou fisiológicos negativos em seres humanos.

Art. 3°, X - Som Incômodo: toda e qualquer emissão de som medido dentro dos limites reais da propriedade da parte supostamente incomodada que:
a) ultrapasse em mais de 5 dB-A o valor do ruído de fundo, seguindo analiticamente, a seguinte equação: R Å RF ³ RF + 5 dB-A (...) ou;
b) ultrapasse os seguintes valores, por faixa de freqüência, em relação ao ruído de fundo:
b.l) 5 dB nas faixas de oitavas de freqüência centradas em 500 Hz, 1 KHz, 2 KHz, 4 KHz, 8 KHz e 16 KHz.
b.2) 8 dB na faixa de oitava freqüência centrada em 250 Hz.
b.3) 15 dB nas faixas de oitavas de freqüência centradas em 31,5 Hz, 63 Hz e 125 Hz

(...)

Art. 5° - A ninguém é licito por ação ou omissão dar causa ou contribuir para a ocorrência de qualquer distúrbio sonoro.

duas opiniões contrárias

Disse o coroinha Antônio, de 'O escorpião da sexta-feira', novela do Charles Kiefer: " . . . os artistas modernos só fazem coisas ridículas, colam panos em telas, montam o que chamam de instalações com catálogos telefônicos, gatos mortos e bacias d'água. E o ostinato rigore? E o tour-de-force? Odeio arte moderna."

&

Mothers Against Noise (Mães Contra o Ruído)

ela...

A arte serve, sim, para representar e comunicar o (verbalmente) irrepresentável e o (verbalmente) incomunicável, mas não serve para dar sentido, acepção, significação, porque essas coisas passam pela verbalização, pela racionalidade, pela linearidade. No momento em que é possível traduzir a obra em linearidade, e essa tradução confere com uma intenção original igualmente racional do artista, tal obra já não está mais tendo o objetivo de comunicar o incomunicável. A confusão faz parte do pacote máximo de sensações que a obra pode produzir. É lindo não entender, não poder/precisar montar o quebra-cabeça, até porque não é um quebra-cabeça. Se há intenção em algum momento, ela é inconsciente, resultado de uma catarse, de uma espécie de meditação, e a sua fruição, da mesma forma, é catarse e meditação, é deixar fluir as sensações.

mestres: pan sonic



Num dia memorável do final dos anos 80, na capital finlandesa Helsinki, integrantes de um grupo músico-performático chamado Ultra 3 sujeitaram-se a um teste de resistência sônica. Isolados numa sala pequena, ali ficaram por dez horas, sem comida ou qualquer suprimento, imersos num rumor sonoro de baixa baixa freqüência a 125 decibéis. Quase uma década depois, dois membros daquele grupo, Mika Vainio e Ilpo Väisänen, na sua residência em South London, ficaram criando música em público seis horas por dia, todo dia, por três semanas. O Pan Sonic vem de uma pequena coleção de almas na Finlândia (um lugar onde, segundo eles, "dificilmente alguma coisa acontece alguma vez") que se dedicam a cultivar um clima bizarro de experimento artístico e inovação tecnológica. "A experiência Ultra 3 funcionou muito bem', diz llpo, 'havia um grande sentimento depois daquilo, porque nós treinamos nossas mentes para estar no espaço por dez horas".

mestre: david lynch



"Quando se observa um prédio antigo ou uma ponte enferrujada, sabe-se que a natureza e o homem trabalharam juntos. Quando se pinta o prédio, a magia desaparece. Mas se ao prédio é permitido envelhecer, homem e natureza se unem então em trabalho - isso é muito orgânico. Mas em geral as pessoas não se interessam em permiti-lo (...)"

"Todos querem expandir a consciência e obter o contentamento. É um desejo natural, um desejo humano. E muita gente busca isso nas drogas. Mas o problema é que o corpo, a fisiologia, sofre um forte impacto com elas. As drogas afetam o sistema nervoso e por isso tornam mais difíceis essas experiências por conta própria. (...) As experiências mais profundas encontram-se de forma natural."

"O filme deve se bastar. É um absurdo o cineasta dizer com palavras o que significa um filme em particular. O mundo do filme é uma criação e às vezes as pessoas gostam de penetrar nesse mundo. Para elas, é um mundo real. E quando essas pessoas descobrem de que forma alguma coisa é feita, ou o seu significado, isso continua na cabeça quando elas assistem ao filme outra fez. E o filme se torna então diferente. Acho válido e muito importante que se conserve esse mundo e não se revelem certas coisas que poderiam estragar a experiência. Não precisamos de nada além da obra. (...) Algumas vezes as pessoas dizem que não conseguiram entender um filme, mas na verdade entendem muito mais do que percebem. E isso acontece porque todos somos abençoados pelo dom da intuição; nós temos realmente o dom de intuir as coisas. Embora alguém possa dizer que não entende de música, a maioria a vivencia emocionalmente e há de concordar que ela é uma abstração. Não preciso traduzi-la com palavras, basta ouvi-la. O cinema é muito parecido com a música."

mestre: andrei tarkovski



"Uma vez gravei uma conversa comum. As pessoas falavam sem saber que a gravação estava sendo feita. Mais tarde, ouvi a fita e fiquei surpreso com o brilho com que o diálogo fora 'escrito' e 'representado'. A lógica dos movimentos dos personagens, o sentimento, a energia - quão palpável era tudo! Como eram melodiosas as vozes, e que belas pausas!"

"Ao se emocionar com uma obra-prima, uma pessoa começa a ouvir em si própria aquele mesmo chamado da verdade que levou o artista a criá-la. Quando se estabelece uma ligação entre a obra e o seu espectador, este vivencia uma comoção espiritual sublime e purificadora. Dentro dessa aura que liga as obras-primas e o público, os melhores aspectos das nossas almas dão-se a conhecer, e ansiamos por sua liberação. Nesses momentos, reconhecemos e descobrimos a nós mesmos, chegando às profundidades insondáveis do nosso próprio potencial e às últimas instâncias de nossas emoções."

sábado, 13 de junho de 2009

a água fala

John Cage aplicando as características da arte contemporânea à música e sendo percebido como um número de comédia pela plateia de um programa de televisão:

então o tempo

Talvez o mais famoso argumento contra a realidade do tempo seja o de McTaggart. Ele diz que podemos distinguir duas séries ou características do tempo, a série-A e a série-B, que chamaremos de características-A e características-B. As noções de passado, presente e futuro são as características-A; e as noções de antes e depois, ou anterior e posterior, são as características-B. Segundo McTaggart, as características-B são redutíveis às características-A, e as características-A nos levam ao regresso ao infinito. Tome como exemplo um evento presente, a leitura desta postagem. Este evento é presente, foi futuro e será passado. Ser presente é ser presente no presente, ter sido futuro no passado e vir a ser passado no futuro. Ser presente no presente é ser presente no presente no presente, ter sido futuro no passado no presente, vir a ser passado no futuro no presente etc. Resumindo, por levarem ao regresso ao infinito as características-A não podem ser atribuídas ao tempo. Como, após a redução das características-B às características-A, não há outras características do tempo, McTaggart conclui que o tempo não tem característica alguma por ser irreal. Em suma, ele diz que o tempo não existe, embora tenhamos a ilusão do tempo.

Uma das duas principais famílias de soluções para esse problema tem caráter epistemológico e metafísico. Traçamos a visão de uma direção no tempo por causa da assimetria da causação. Sabemos mais sobre o passado porque os elementos do passado são causas do efeito que é nossa percepção.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

união dos três últimos posts

Jimmy Scott. "Sometimes I Feel Like A Motherless Child'


Jimmy Scott, de família pobre e pai alcoólatra, tinha a síndrome de Kallmann, em decorrência da qual seu corpo produzia uma quantidade reduzida de testosterona, o que alterou o seu crescimento, seu olfato e influenciou a sua voz, deixando-o com um estranho timbre de soprano. Conhecemos Jimmy Scott no episódio de encerramento do seriado Twin Peaks, onde ele aparece cantando no Salão Negro (foto do Salão Negro: clique aqui). A música, composta por David Lynch, está na trilha de Fire Walk With Me - baixe aqui caso queira. Esta cena tem um impacto suplementar, em função de todo o conjunto de eventos que cercam a circunstância de seu reaparecimento ser fantástico – após cantar no funeral de um amigo, pela primeira vez em décadas, e ter sido reconhecido por Lou Reed, essa performance é a que marca a volta de Scott, que tivera um longo período fora dos palcos, frustrado com o fracasso, durante o qual trabalhou como funcionário em um hospital e ascensorista de elevador. Este é um caso, como o de David Byrne ressuscitando a carreira de Tom Zé, que trabalhava em um posto de gasolina, e Jim Jarmuch, que trouxe de volta aos palcos Screamin’ Jay Hawkings, que vivia então em um estacionamento de trailers, em que devemos agradecimentos à Lynch por ter trazido-o de volta a uma carreira que se revelou ainda mais impressionante (ele continua cantando, atualmente com 84 anos).
De resto veja o vídeo e no final diga:
-Puta quiopariu.

Grupo Ío

lyncha, lyncha, lyncha!!!

Tapetes feitos para a procissão de Corpus Christi. Nas cidades de tradição açoriana eles são de pétalas de flores.


No dia de Corpus Christi de 1931, o artista Flávio de Carvalho realizou a experiência número 2, que consistia em andar no sentido contrário à procissão de Corpus Christi usando um boné, um boné verde de veludo.
Você, na sua ausência de perspectiva histórica, talvez esteja dizendo: - Grandes merda.
No entanto, na provinciana São Paulo de 1931, manter um boné ostensivamente na cabeça, durante uma procissão ou na igreja, era acintosamente agressivo.
Resumo dos eventos: Flávio de Carvalho teve que fugir da multidão e foi salvo pela polícia. Para constar, a turba enlouquecida gritava ensandecidamente:
Lyncha, Lyncha, Lyncha... (que, na época, era escrito assim mesmo)



Capa da segunda edição do livreto em que Flávio de Carvalho contava o evento da

Experiência número 2.


Grupo Ío

imprevisibilidade é a regra dos nove


A fotógrafa Diane Arbus tornou-se conhecida por fotografar um outro mundo, à margem da América nos seus anos d'oiro.

A imagem do post “Ensaio para Teratonia”, fora ser um fato concreto, quase um axioma, é também1 uma citação ao filme Freaks, de Todd Browning (abaixo, cena do casamento). Citando esta película, o que nos fascina não é uma apologia do bizarro, mas a apologia da imprevisibilidade da natureza, por mais assustador que isto possa ser - lembrando que o presente, como nós o conhecemos, é apenas uma das infinitas possibilidades do nosso passado (na verdade, não tão no singular, mas isto é tema de outro post) e nós somos criaturas que respondem razoavelmente bem a ele (Ok. Você pode contra-argumentar com solidez, mas não o faça por educação). Só que em um futuro muito próximo a situação, talvez, mude totalmente - e é impossível predizer qual característica será a mais adaptada (sim, Darwin2). Este incentivo à diversidade, por mais exótica que seja, não é um valor politicamente correto, mas uma estratégia de sobrevivência, aplicada a todas as áreas. Nós simplesmente não sabemos o que é 100% recomendado para o futuro - mas um cachorro vira-latas, provavelmente, está mais adaptado, ou seja, tem mais chances de sobreviver neste futuro do que um Bichon Frisé. E isto é 93,2% da idéia do Teratonia.


Cena de casamento. Homenagem do Bakos a Eduardo Bichinho.

1. Um dos alegres mistérios da vida é que algumas coisas podem ser várias ao mesmo tempo (quase todas) multiplicando ao infinito o significado do próprio mundo.
2. Recomendo uma série de quatro documentários da BBC sobre o Senhor. Tem no eMule e associados e Legendas no www.legendas.tv
BBC.Charles.Darwin.and.the.Tree.of.Life.2009.HDTV.XviD.MP3.MVGroup.avi
BBC.Darwins.Struggle.The.Evolution.of.the.Origin.of.Species.2009.WS.PDTV.XviD.MP3.MVGroup
BBC.Did.Darwin.Kill.God.2009.DVB.XviD.MP3.MVGroup.org
BBC.What.Darwin.Didnt.Know.2009.XviD.MP3.MVGroup


Grupo Ío

quarta-feira, 10 de junho de 2009

sobre o improviso



"Em sânscrito existe uma palavra, lîla, que significa 'jogo', 'brincadeira'. Mais rica de sentidos do que as palavras correspondentes em nossa língua, ela significa brincadeira divina, o jogo da criação, destruição e recriação, o dobrar e desdobrar do cosmos. Lîla, profunda liberdade, é ao mesmo tempo a delícia e o prazer do momento presente e a brincadeira de Deus. Significa também 'amor'. Lîla pode ser a coisa mais simples que existe - espontânea, infantil, franca. Mas, à medida que crescemos e experimentamos as complexidades da vida, ela também pode ser a conquista mais dura e difícil, e chegar a desfrutá-la é como retornar ao nosso verdadeiro ser. Existe algo energizante e desafiador em estar frente a frente com a plateia e criar uma peça musical que tem ao mesmo tempo o frescor do momento fugaz e - quando tudo funciona - a tensão e a simetria estrutural de um organismo vivo. Pode ser uma experiência extraordinária e muitas vezes mobilizadora de comunicação direta. Caminhar por uma cidade desconhecida seguindo a intuição é muito mais gratificante do que uma excursão planejada por lugares testados e aprovados. Mas esse passeio é totalmente diferente de perambular a esmo. Existem muitas situações em que somos impropriamente solicitados a planejar ou roteirizar o futuro." (Stephen Nachmanovitch)

pairar entre duas categorias



Uma das estratégias do processo criativo contemporâneo é fazer a obra pairar entre duas categorias. Quando nomeamos algo, arquivamos esse algo. Enquanto não nomeamos, a ideia fica pairando e mantém-se frontal. Picasso dizia que queria fazer um morcego que não deixasse de ser uma caixa de fósforo. Quanto menos algo é o que é, mais ele pode ser outra coisa. Essa é a diferença de uma obra bem feita dentro das categorias pré-existentes e uma obra realmente criativa, que nunca se fecha e sempre vai manter o processo mental do fruidor. Por isso, a obra realmente criativa sempre causará estranhamento e até incômodo no início. "Diante de uma obra desafiadora, muitas vezes não se sabe se gostamos dela ou não, mas ficamos pensando nela durante duas semanas", diz o escocês Charles Watson, professor de arte do Parque Laje (RJ).

domingo, 7 de junho de 2009

ensaio para o teratonia


Foto dos ensaios do grupo Ío.

Uma música criada originalmente para o Teratonia de 2005 deve ser apresentada nesta edição. A música, pleonasticamente, se chama Teratonia. Acima, registro fotográfico durante uma das discussões do supracitado ensaio.

Grupo Ío

sexta-feira, 5 de junho de 2009

input_output


"Presente", no dicionário, significa: 1. O período de maior ou menor duração, compreendido entre o passado e o futuro; o tempo atual. 2. Pessoa que comparece a um dado lugar ou presencia algum fato. 3. Aquilo que se oferece com o intento de agradar, retribuir ou fazer-se lembrado; brinde, dádiva, lembrança, mimo, regalo. 4. Dádiva; dom; condão. 5. Tempo verbal que concebe uma situação como simultânea do momento da enunciação, ou em sentido mais amplo, exprime a atualidade.

O input_output recebeu ou receberá, não sabe de quem, o Agora, uma Testemunha, um Regalo, uma Dádiva, o Contemporâneo, e os mostrará no palco do Goethe. Na constante transição proporcionada pela Zone (ver Stalker, de Andrei Tarkovski), Douglas Dickel, o homem por trás do input_output, apresenta no Teratonia 3 o novo show e a nova formação de seu projeto solo. É nele que Douglas exercita seu instinto de explorar os limites da linguagem musical, procurando conciliar o pop e o estranho lynchiano dentro da estratégia de deixar a obra pairando entre duas categorias.

Nunca Me Presentearam Tão Bem Como Ontem, musicalmente, apresenta: 1. composições de Eu contenho todos os meus anos dentro de mim (2005), 2. vários respingos - output - das referências - input - de Dickel e 3. alguns esboços do que será seu tardio porém vindouro segundo álbum. Tudo isso misturando águas elétricas de Sonic Youth, estáticas de Ryoji Ikeda e sombrias de Massive Attack e Pink Floyd. Fora do som, o novo show abre as portas para a projeção de vídeos minimalistas do próprio Douglas e de borrifos de cena teatral, com a participação de Juliana Brizola.