sexta-feira, 31 de julho de 2009

sobre o som

"Sabemos que o som é onda (...). Não há som sem pausa. O tímpano auditivo entraria em espasmo. O som é presença e ausência, e está, por menos que isso apareça, permeado de silêncio. Há tantos mais silêncios quanto sons no som . . . Mas também, de maneira reversa, há sempre som dentro do silêncio: mesmo quando não ouvimos os barulhos do mundo, fechados numa cabine à prova de som, ouvimos o barulhismo do nosso próprio corpo produtor/receptor de ruídos (refiro-me à experiência de John Cage, que se tornou a seu modo um marco na música contemporânea, e que diz que, isoaldos experimentalmente de todo ruído externo, escutamos no mínimo o som grave da nossa pulsação sangüínea e o agudo do nosso sistema nervoso). O mundo se apresenta suficientemente espaçado (quanto mais nos aproximamos de suas texturas mínimas) para estar sempre vazado de vazios, e concreto de sobra para nunca deixar de provocar barulho.

"O som é o produto de uma seqüência rapidíssima (e geralmente imperceptível) de impulsões e repousos, de impulsos (que se representam pela ascensão da onda) e de quedas cíclicas desses impulsos, seguidas de sua reiteração. A sonda sonora, vista como um microcosmo, contém sempre a partida e a contrapartida do movimento, num campo praticamente sincrônico. (...) O som é, assim, o movimento em sua complementaridade, inscrita na sua forma oscilatória."

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

2/4

Ouça os trabalhos musicais do douglas dickel (input_output).

Blanched - Blanched toca Angelopoulos (2004)
input_output - eu contenho todos os meus anos dentro de mim
input_output - Polissonografia (2005)
Hotel - Térreo (2007)
Blanched - Avalanched (2007)
Pelicano - Oito meses para a migração (2008)
input_output + Pan&tone - Panetone sessions #5 (2008)
input_output + Pan&tone + Dom Pedro: Porco-espinho (2008)
Hotel - Segundo andar (2008)

E veja o trabalho com fotografia dele.

lîla

"O processo de brincar não torna o brinquedo um mero utensílio de distração, mas um gerador de situações imaginárias." (Lev Vygotsky)

"Brincar é a condição fundamental para ser sério." (Arquimedes)

"Se você, adulto ciente e responsável, ainda não desatou a brincar, é porque ainda lhe falta maturidade." (Eugenio Mussak)

teoria do triângulo equilátero ou do caminho do meio



Comentário que fiz no hoje extinto blog do amigo artista Muriel Paraboni. (Para um melhor entendimento, talvez, leia-se "arte bonita e acessível" no lugar de "ordem" e "arte de vanguarda e experimental" no lugar de "caos".) "O ideal é o caminho do meio. Vejo essas coisas mais ou menos como um triângulo equilátero desenhado no chão. Faça-se um traço do ponto médio de uma das arestas até o pico oposto, como se fosse dividir o equilátero em dois triângulos retos. O ponto médio da base que se forma é o ponto onde o artista está. Se ele vai para um lado, o da ordem, ele pode ir longe; se ele vai para o outro lado, o do caos, ele também pode ir longe; mas, se ele vai para frente, mesclando ordem e caos na medida exata, ele vai ainda mais longe e, ainda por cima, o mais adiante possível."

os seis mundos do samsara



1. O INFERNO: Descrito como um mundo onde reina um mar de chamas e vulcões. Reina uma agonia sem fim. Aos que caem neste mundo só resta o sofrimento eterno. O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.

2. O MUNDO DOS DEMÔNIOS FAMINTOS: Um mundo onde criaturas esqueléticas com a barriga proeminente passam os dias devorando tudo o que encontram em seu caminho, sejam animais ou cadáveres. Acima do reino dos infernos pelo lado direito encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome sem nunca terem estas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes deste reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.

3. O MUNDO DAS FERAS: Um mundo habitado por feras que devoram umas às outras, onde reina a lei da selva. Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies.

4. O MUNDO DOS GUERREIROS SANGRENTOS ou MUNDO DAS LUTAS ou ainda ASURA: Um mundo imerso em um conflito eterno, onde os guerreiros se enfrentam eu um combate mortal sem um segundo de trégua. O reino dos Asura (termo traduzido como “Titãs” ou dos anti-deuses). Os seus habitantes ali nasceram em resultado de ações positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.

5. O MUNDO HUMANO: Dominados pela insegurança, seus habitantes se vêem obrigados a sofrer todos os tipos de emoção. O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nesta cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de consciência sobre a condição Samsárica.

6. O MUNDO DIVINO: O mundo onde reina o gozo eterno. É o mais perigoso, pois sempre pode se cair em um dos outros mundos. O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino humano vivem seres que devido à prática de boas ações levam uma ação harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são denominados como “Residências Ruras”, sendo habitadas por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.

limiares

"A agonia da ultrapassagem das limitações pessoais é a agonia do crescimento espiritual. A arte, a literatura, o mito, o culto, a filosofia e as disciplinas ascéticas são instrumentos destinados a auxiliar o indivíduo a ultrapassar os horizontes que o limitam e a alcançar esferas de percepção em permanente crescimento. Enquanto ele cruza limiar após limiar, e conquista dragão após dragão, aumenta a estatura da divindade que ele convoca, em seu desejo mais exaltado, até subsumir todo o cosmo. Por fim, a mente quebra a esfera limitadora do cosmo e alcança uma percepção que transcende todas as experiências da forma — todos os simbolismos, todas as divindades: a percepção do vazio inelutável." (CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces.)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

princípio da incerteza para o óbito de célebres escritores


Nosso ultrapassado Juliano (apesar de ser usado, ainda, no cálculo de feriados religiosos)

Já que no mesmo Post foram citados, casualmente, Cervantes e Shakespeare ( no post A Influência de Francis Bacon sobre os Veículos Automotores Brasileiros), dois cavaleiros que tenho em alta conta como heróis existenciais, vamos a uma curiosa curiosidade (pleonasmo meu): é fato notório que ambos morreram no dia 23 de Abril. Contudo, é importante perceber que o Calendário Gregoriano já era utilizado na Espanha desde o século XVI, enquanto que na Inglaterra, que desconfiava deste golpismo temporal católico (Kepler ironizava a adoção do novo calendário por “estar em desacordo com o Sol e estar de acordo com o Papa”), utilizava, ainda, o Calendário Juliano. A adoção do calendário Gregoriano pelos britânicos deu-se somente em 1751, isto é, mais de 150 anos depois. Assim, em 1582, o Papa Gregório XIII, aconselhado pelos astrônomos, decretou pela bula Inter gravissimas que quinta-feira, 4 de Outubro de 1582 seria imediatamente seguido de sexta-feira 15 de Outubro. Logo, nesta matemática obtusa, Miguel de Cervantes e Shakespeare faleceram no dia 23 de abril, contudo com dez dias de diferença. Em relação à mudança do calendário Juliano para o Gregoriano, fico imaginando alguns boêmios que, saindo para uma noite de beberagem no dia 4 de outubro de 1582, acordaram apenas no dia 15 (isto é, no dia seguinte).

clube da pelúcia

Samir Jaime como luxuriante animal antropomórfico.

Furry Fandom (algo como fã clube da pelúcia) é a classificação dada às pessoas que gostam de vestir-se como animais antropomórficos, ou ver outras pessoas vestidas. Os simpatizantes deste fetiche gostam de ver pornografia relacionada à pessoas vestidas como animais, e do envolvimento delas em atos sexuais. Às vezes, a realização sexual pode envolver simplesmente o toque, esfregando a fantasia.

verbete

pro.vi.dên.ci:a

Substantivo feminino.
1. A suprema sabedoria com que Deus supostamente conduz todas as coisas.
2. O próprio Deus. [Com cap. nesta acepç.]
3. Disposições ou medidas próprias para alcançar um fim.
4. Acontecimento feliz.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

entrada_saída

a Influência de Francis Bacon sobre os Veículos Automotores Brasileiros.

Francis Bacon - Study for Bullfight No.1

Talvez o que mais caracterize a Ío seja o humor. Mas, certamente, um humor que não pode ser classificado como engraçado - de modo geral não tem força nem para arquear o canto dos lábios. Emprega a ironia como principal instrumento, mas também se apóia em oxímoros e humor negro. Mas o que nos interessa no humor é a apropriação da estrutura da piada. Isto é, uma narrativa inusitada que se constrói e subitamente tem um ponto inesperado de ruptura, onde normalmente está a graça e é o instante em que o ouvinte toma consciência das relações internas da piada. Não é casual que o Osho usava, com freqüência, piadas em suas palestras. A percepção de que uma piada é uma homeopática epifania, que tem estreita correlação com estados mais complexos de consciência como, por exemplo o kensho* budista ou a êxtase católica ou um It Lispectoriano, é o que nos interessa como método de uso. Uma percepção que ocorre em um tempo exíguo em que os múltiplos sentidos se conectam e que seja engraçado, mas sem graça, é nossa ambição. Vamos a uma análise de caso ilustrativa: no espetáculo SAÍDA DE EMERGÊNCIA, de 2004-06, havia um vídeo com o título quilométrico (referência humorística aos títulos de capítulos de Cândido, de Voltaire, ou Don Quixote, em que o enunciado de modo geral antecipa tudo que acontecerá no mesmo) de A Influência de Francis Bacon sobre os Veículos Automotores Brasileiros. Obviamente que Francis Bacon não é aquele precursor da ciência moderna (ao qual alguns maledicentes imputavam a obra de Shakespeare), mas o pintor. Em nossos translados a nosso retiro Garibaldense (uau, que bucólico), percebemos que os animais mortos e sucessivamente atropelados nas estradas acabavam tomando a forma de figuras à la Francis Bacon. Disto surgiu a disposição de fazer um vídeo com o irônico titulo supracitado, como se o pintor britânico influenciasse esteticamente os motoristas brazucas em suas ações assassinas motorizadas, tornando as estradas, assim, um amplo espaço expositivo, obviamente macabro.
Io - Still do vídeo "A Influência.."

Pós escrito:
Para aqueles que buscam significados transcendentais na Ironia ou na sincronicidade, no dia em que iríamos começar a gravação do vídeo, nossa gata Pimponeta foi atropelada e morta. Boa diversão aos que tem o hobby de procurar significados nas complexas relações aleatórias de eventos dissociados, e encontrar nisto um significado simbólico.

*Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do satori, que se refere a um estado de iluminação mais profundo e duradouro, o Kensho não é um estado permanente de iluminação, mas uma visão clara da natureza última da existência.


é



Ocorrência de teratonia no último sábado, dia 18 de julho de 2009, no asfalto da Av. Diário de Notícias, bairro Cristal, em Porto Alegre. Ocorrência registrada por Juliana Brizola, co-laboradora do input_output, com seu aparelho novo de telefonia celular.

terça-feira, 21 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ío ao vivo no Goethe

Teratonia 3. No detalhe Iandra Cattani durante apresentação do grupo Ío.
Foto Carolina Hilário. Edição de imagem M. Klamt.

domingo, 19 de julho de 2009

te-ra-to-ni-a

Só um adendo: para falar "teratônia", teria de haver o acento circunflexo, pois se acentuam as paroxítonas terminadas em ditongo crescente. No nosso caso, o i forma um hiato com o a. Logo, "teratonia" pronuncia-se como "pia", "cotovia", "iatrogenia", "chimia".

mais vale a dúvida que a explicação

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita. 1999.

Quanto à contribuição da História para o conhecimento da condição humana, ela deve incluir o destino, a um só tempo, determinado e aleatório da humanidade.

A poesia, que faz parte da literatura e, ao mesmo tempo, é mais que a literatura, leva-nos à dimensão poética da existência humana. Revela que habitamos a Terra, não só prosaicamente – sujeitos à utilidade e à funcionalidade –, mas também poeticamente, destinados ao deslumbramento, ao amor, ao êxtase. Pelo poder da linguagem, a poesia nos põe em comunicação com o mistério, que está além do dizível.

O aprendizado da vida deve dar consciência de que a “verdadeira vida”, para usar a expressão de Rimbaud, não está tanto nas necessidades utilitárias – às quais ninguém consegue escapar –, mas na plenitude de si e na qualidade poética da existência, porque viver exige, de cada um, lucidez e compreensão ao mesmo tempo, e, mais amplamente, a mobilização de todas as aptidões humanas.

Quando conservamos e descobrimos novos arquipélagos de certezas, devemos saber que navegamos em um oceano de incertezas.

Conhecer e pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza.

A ecologia da ação tem, como primeiro princípio, o fato de que toda ação, uma vez iniciada, entra num jogo de interações e retroações no meio em que é efetuada, que podem desviá-la de seus fins e até levar a um resultado contrário ao esperado. O segundo princípio da ecologia da ação diz que as conseqüências últimas da ação são imprevisíveis.

sábado, 18 de julho de 2009

arremassos

o que foi sendo escrito



input_output

sexta-feira, 10 de julho de 2009

a teratofilia dentro da ubiquidade do centro do mundo

trechos retirados de
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. 1949.


O Centro do Mundo é ubíquo. E, sendo ele a fonte de toda a existência, nele é gerada a plenitude do bem e do mal do mundo. A feiúra e a beleza, o pecado e a virtude, o prazer e a dor, são igualmente produção sua. "Aos olhos de Deus, tudo é normal e bom e justo", declara Heráclito; "mas os homens consideram algumas coisas certas e outras erradas". Eis por que as imagens adoradas nos templos do mundo de modo algum são sempre belas, benignas ou mesmo necessariamente virtuosas. Tal como a divindade do Livro de Jó, elas ultrapassam em muito a escala dos valores humanos. E, da mesma forma, a mitologia não tem como seu maior herói o homem meramente virtuoso. A virtude não é senão o prelúdio pedagógico da percepção culminante, que ultrapassa todos os pares de opostos. A virtude subjuga o ego voltado para si mesmo e torna possível a convergência transpessoal; mas, quando esse estado é obtido, o que ocorre com a dor ou com o prazer, com o vício ou com a virtude, do nosso próprio ego ou de qualquer outro? Através de tudo, a força transcendente — que vive em tudo, que em tudo é prodigiosa, que em tudo é valiosa - da nossa profunda obediência é então percebida.

Pois, como declarou Heráclito: "Os diferentes são reunidos, e das diferenças resulta a mais bela harmonia, e todas as coisas se manifestam pela oposição". Ou, novamente, como nos diz o poeta Blake: "O rugir dos leões, o uivar dos lobos, o bramido do mar tempestuoso e a espada destrutiva são porções da eternidade demasiado grandes para o olho do homem."

quinta-feira, 9 de julho de 2009

mestre: schopenhauer

"O número inesgotável de possíveis melodias corresponde ao inesgotável da natureza na diversidade dos indivíduos, fisionomias e decursos de vida."

sobre a complexidade



"À primeira vista, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambiguidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de a tornar cega se eliminarem os outros caracteres do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas tornam-nos cegos." (MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 1991.)


Wikipédia:

Na busca do verdadeiro pensamento complexo de Edgar Morin, esbarramos no entendimento de outros conceitos, entre eles, é o de operadores de complexidade:

- Operador dialógico que é diferente de operador dialético
- Operador recursivo
- Operador hologramático

O operador dialógico envolve o entrelaçar coisas que aparentemente estão separadas:

- Razão e emoção
- Sensível e inteligível
- O real e o imaginário
- A razão e os mitos
- A ciência e a arte

Trata-se da não existência de uma síntese, tudo isto consiste o chamado "dialogizar".

O operador recursivo, trata principalmente do fato de que sempre aprendemos que uma causa A produz um efeito B. Na recursividade a causa produz um efeito, que por sua vez produz uma causa. Exemplo: Somos produto de uma união biológica, entre um homem e uma mulher e por nossa vez seremos geradores de outras uniões.

O operador hologramático, trata de situações em que você não consiga separar a parte do todo. A parte está no todo, assim como o todo está na parte. Esses três operadores são as bases do pensamento complexo. Em resumo temos:

- Juntar coisas que estavam separadas
- Fazer circular o efeito sobre a causa
- Ideia de totalidade: Não dissociar a parte do todo. O todo está na parte assim como a parte está no todo.

Com esses três operadores, você criará a noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, criará uma concepção de que a simples soma das partes não leva a esse total. A totalidade (no pensamento complexo), é mais do que a soma das partes e simultaneamente menos que a soma das partes.

Nós somos considerados seres:

- Que falam;
- Que fabricam seus próprios instrumentos;
- Simbólicos, pois criamos nossos símbolos, nossos mitos, e nossas mentiras.

O pensamento complexo afirma também que, além disso, somos complexos. Isto porque estamos inscritos numa longa ordem biológica e porque somos produtores de cultura. Logo, somos 100% natureza e 100% cultura. O conhecimento complexo não está limitado à ciência, pois há na literatura, na poesia, nas artes, um profundo conhecimento. Todas as grandes obras de arte possuem um profundo pensamento sobre a vida. Segundo o próprio Morin, devemos romper com a noção de que devemos ter as artes de um lado e o pensamento científico do outro.


Ensinar a condição humana

Não somos um algo só. Somos indivíduos mais que culturais: somos psíquicos, físicos, míticos, biológicos etc.

A educação do futuro deverá ser um ensino primeiro e universal centrado na condição humana. O humano permanece cruelmente dividido, fragmentado, enuncia-se um problema epistemológico, e é impossível conceber a unidade complexa do humano por intermédio do pensamento disjuntivo, que concebe a nossa humanidade de maneira insular, por fora do cosmos que o rodeia, da matéria física e do espírito do qual estamos constituídos, nem tampouco por intermédio do pensamento redutor que reduz a unidade humana a um substrato bio–anatômico.

Enraizamento/desenraizamento - Embora enraizados no cosmos e na esfera viva, os humanos desenraizaram-se pela evolução.

Condição cósmica/condição física/condição terrestre/condição humana - Somos ao mesmo tempo seres cósmicos e terrestres. Somos resultado do cosmos, da natureza, da vida, mas devido à nossa própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos do qual fazemos parte. Evoluímos para além do mundo físico e vivo. É neste mais além que se opera o pleno desdobramento da humanidade.

- A unidualidade – O homem é um ser plenamente biológico, mas senão dispusesse plenamente da cultura seria um primata do mais baixo nível. O homem só se completa em ser plenamente humano pela e na cultura. Não existe cultura sem cérebro humano, mas não há mente ou seja, capacidade de consciência e de pensamento sem cultura. A mente é uma emergência do cérebro, que suscita cultura, a qual não existiria sem cérebro. Uma outra face da complexidade humana que integra a animalidade na humanidade e a humanidade na animalidade. As relações entre a razão/afeto/impulso não são só complementares, mas também antagonistas admitindo os conflitos entre a impulsividade, o coração e a razão.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Teratofilia



Max Ernst, do livro Une Semaine De Bonté


Tentar definir Teratofilia já parece em si um certo equívoco - a palavra deve ser um neologismo, pois não encontrei a mesma em nenhum dicionário formal e, apesar de existir na wikipédia, ainda não há um link disponível. Referências webísticas, que são a única fonte de aparecimento da palavra, são poucas, repetitivas e divergentes. Ora apontam Teratofilia como “desejo e excitação por pênis grandes” (em que o grau de excitabilidade está diretamente relacionado à monumentalidade do membro), ora como “atração por pessoas deformadas e o monstruoso”. Vamos considerar especulativamente a palavra Teratofilia, para o bem da retórica, como uma ficção, uma palavra ainda inexistente, e tentar definir seu significado neste quadro, partindo da segunda definição. É necessário primeiro precisar as palavras “monstruoso” e “deformado” para tentar entender Teratofilia. As definições são, respectivamente:
1 Que tem qualidade ou natureza de monstro. 2 Que é contrário à ordem regular da natureza. 3 De grandeza extraordinária. 4 Que excede quanto se devia esperar. 5 Muito feio, repulsivo. 6 Que excede tudo que se possa imaginar de mau.
1 Mudar a forma de, tornar(-se) disforme. 2 Reproduzir inexatamente: O repórter deformou o pensamento do entrevistado.
Dentro destas definições, Teratofilia poderia ser definido como uma atração pelo irregular nos padrões naturais, tanto em forma quanto em dimensões (claro que, agregado a isto, a idéia de muito feio ou repulsivo). Porém, sabemos que isto é um padrão absolutamente relativo - tomando a beleza feminina como modelo, e analisando-a no decorrer da história, comprova-se isto com veemência. Este link exemplifica algo que cumpre alguns estatutos de beleza e no futuro próximo (agora, por exemplo) será visto como uma bizarrice dos nossos tempos.

A Bela e a Fera, de Jean Cocteau

Meu argumento é que a monstruosidade é cultural, social e pessoal, logo, não um valor universal (o que na verdade nada é, culturalmente falando) ou consensual. Que a Teratofilia seria um apreço intenso por estas rupturas, por esta diversidade formidável (veja post http://grupo-io.blogspot.com/2009/06/neologismo.html). Por sistemas e ordenações mais complexos de beleza. Também é considerável a influência no nosso imaginário estético dos deuses e criaturas fantásticas, teratônicas que herdamos da mitologia da antiguidade Suméria, Babilônica, Egípcia, Grego-Romana, das fábulas européias, dos quadrinhos de super-heróis ou do cinema. Podemos pegar um exemplo bem familiar, como a Bela e a Fera (que ficou notória pela versão da Disney). A Bela pode ser considerada uma Teratofílica (tu vê, heim?) Ou o filme Crash do David Cronenberg, pura Teratofilia
E não podemos desconsiderar a definição "Que excede tudo que se possa imaginar de mau" nesta argumentação.
A maldade tem seu inevitável grau de sedução. Um certo mistério desajustado e cruel com seu quê de Anjo Exterminador, presente, ora em doses homeopáticas, ora alopáticas, nas relações de sedução e no sexo em si, ecoando nas suas ordenações de poder e de dominação que são combustíveis do fetiche e com inclinação para serem fascinantes e sexy. O próprio demônio, com sua incontestável luxúria monstruosa, povoou o imaginário erótico de gerações de moças e senhoras de formação cristã. Logo, todo o mundo a leste da Rússia. Mais contemporaneamente, temos o fetiche por vampiros, criaturas que personificam os extremos de fascínio, medo, beleza, crueldade e poder.

Ío

to say yes to an instant is to say yes to all of the existence



"A concepção artística que emana dos trabalhos de Mira Schendel faz-nos lembrar um sismógrafo de extrema sensibilidade, especializado em captar todos os imperceptíveis e lentos processos das formações, aqueles que nos surpreendem de repente com as formações já formadas. Tudo na pintura de Mira, composição e distribuição, linha e cor, diálogo das formas e da matéria, tem como objetivo e única finalidade nos revelar os processos lentos e os ritmos silenciosos das formações em formação.". (Theon Spanudis)



"Há uma concordância em entender o trabalho de Mira Schendel como um não-ser, uma entidade que não se fixa o suficiente para ser identificada, que não se estabiliza o bastante para ser isolada e nem se define nitidamente para ser conceitualizada. Até mesmo a materialidade essencial às coisas é subtraída. Próximo de um sopro, flatus. Quase nada, apenas o mínimo suficiente para ser, para não pesar, para não aparecer, para não perturbar. O mínimo para ser, quase não-sendo. Para ser apenas uma presença essencial. Um pouco mais que uma indefinição. Quanto mais potencializa sua presentificação, mais afirma sua ausência. Todos os modos enfáticos que apelam aos sentidos são por ele negados." (Paulo Venancio Filho)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

pós-minimalismo conceitual



"William Basinski provavelmente não quis fazer um réquiem para Nova York em 11 de setembro de 2001, mas, numa monumental coincidência, ele fez. Naquela manhã, Basinski estava passando alguns loops de fitas cassete que ele tinha criado nos anos 80 para o formato digital. Por causa da idade e da instabilidade das fitas magnéticas, a fita estava se desintegrando. Cada vez que ele tocava o loop, caía um pouco do óxido de ferro, e a música estava mais fragmentada na próxima repetição." (Allmusic Guide)

sábado, 4 de julho de 2009

a arte do futuro segundo uma escritora

"(...) Sim, ela brinca com o real. Invade-o. Distorce-o. Recombina-o. E dança com ele. O real se diverte, pois sabe que o absoluto paira no vazio das nossas (in)certezas. Nós nem sempre nos divertimos tanto, é certo, mas a arte do futuro nos desconcerta com sua contundência infantil, com sua inexorabilidade. Aliás, ela se exercita no desconcerto, faz dele o seu alimento, a sua engorda. Ela nos toma nossos signos mais queridos, nossos dogmas mais preciosos e perturba-os. A arte do futuro precisa do nosso olhar escandalizado, embora não dispense outro olhar que a regue. (...) Desconfie-se, porém, dos arautos do apocalipse. Em muitas manchetes já se publicou o fim de tudo. O fim do mundo, da poesia, da filosofia, da cor, da música, da dança, o meu fim e o seu, o fim do sonho e mesmo o fim da arte do futuro, como se a capacidade desejante de beleza pudesse ter um ponto final. Como se a própria beleza, como numa fábula, não pudesse usar as roupas do bizarro ou dispor de máscaras ou de qualquer outro subterfúgio para depois usar seus talheres de prata sobre os escombros das verdades estabelecidas. Como se a imaginação se subordinasse a argumentos. (...)" (Micheliny Verunschk é historiadora e escritora. Autora de 'Geografia íntima do deserto')

é e não é

"Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes seja imposta pela certeza de que tais coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade do nosso pensamento em relação a elas." (Proust)

nada como um bom desenho!

desenho de Ricardo Pires - colaboração luxuosa!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

setlist FATOR TRANS - temperfaktor

1.ECATOMBE - yamaha djxII keyboard/korg kaosspad kp2/microkorg/piano
2.EROSÃO - microkorg/korg kaosspad kp3/tape bow violin/dvd
3.ENSAIO - voz/kp2
4.ANÚNCIO - djxII box/live samples
5.TRAIÇÃO - live samples/kp2/camera video
6.BATISMO - djxII key/live samples/dvd
7.PLAYBACK - mini dv/korg kaosspad entrancer video/live samples
8. OBTUSO - live samples/dvd

setlist do input_output ontem

01. Noon (Alva Noto & Ryuichi Sakamoto)
02. Banho quente (input_output)
03. Aranha versus abelhas (input_output)
04. Silence (Portishead)
05. Indústria brasileira de lavadoras automáticas (input_output)
06. Complaint department/Plastic star (Lykke Li/Byetone)
07. Escombros (input_output)
08. nova (input_output)
09. Adeus, rendição (input_output)
10. Albatroz (input_output)