sábado, 4 de julho de 2009
a arte do futuro segundo uma escritora
"(...) Sim, ela brinca com o real. Invade-o. Distorce-o. Recombina-o. E dança com ele. O real se diverte, pois sabe que o absoluto paira no vazio das nossas (in)certezas. Nós nem sempre nos divertimos tanto, é certo, mas a arte do futuro nos desconcerta com sua contundência infantil, com sua inexorabilidade. Aliás, ela se exercita no desconcerto, faz dele o seu alimento, a sua engorda. Ela nos toma nossos signos mais queridos, nossos dogmas mais preciosos e perturba-os. A arte do futuro precisa do nosso olhar escandalizado, embora não dispense outro olhar que a regue. (...) Desconfie-se, porém, dos arautos do apocalipse. Em muitas manchetes já se publicou o fim de tudo. O fim do mundo, da poesia, da filosofia, da cor, da música, da dança, o meu fim e o seu, o fim do sonho e mesmo o fim da arte do futuro, como se a capacidade desejante de beleza pudesse ter um ponto final. Como se a própria beleza, como numa fábula, não pudesse usar as roupas do bizarro ou dispor de máscaras ou de qualquer outro subterfúgio para depois usar seus talheres de prata sobre os escombros das verdades estabelecidas. Como se a imaginação se subordinasse a argumentos. (...)" (Micheliny Verunschk é historiadora e escritora. Autora de 'Geografia íntima do deserto')
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