terça-feira, 7 de julho de 2009

Teratofilia



Max Ernst, do livro Une Semaine De Bonté


Tentar definir Teratofilia já parece em si um certo equívoco - a palavra deve ser um neologismo, pois não encontrei a mesma em nenhum dicionário formal e, apesar de existir na wikipédia, ainda não há um link disponível. Referências webísticas, que são a única fonte de aparecimento da palavra, são poucas, repetitivas e divergentes. Ora apontam Teratofilia como “desejo e excitação por pênis grandes” (em que o grau de excitabilidade está diretamente relacionado à monumentalidade do membro), ora como “atração por pessoas deformadas e o monstruoso”. Vamos considerar especulativamente a palavra Teratofilia, para o bem da retórica, como uma ficção, uma palavra ainda inexistente, e tentar definir seu significado neste quadro, partindo da segunda definição. É necessário primeiro precisar as palavras “monstruoso” e “deformado” para tentar entender Teratofilia. As definições são, respectivamente:
1 Que tem qualidade ou natureza de monstro. 2 Que é contrário à ordem regular da natureza. 3 De grandeza extraordinária. 4 Que excede quanto se devia esperar. 5 Muito feio, repulsivo. 6 Que excede tudo que se possa imaginar de mau.
1 Mudar a forma de, tornar(-se) disforme. 2 Reproduzir inexatamente: O repórter deformou o pensamento do entrevistado.
Dentro destas definições, Teratofilia poderia ser definido como uma atração pelo irregular nos padrões naturais, tanto em forma quanto em dimensões (claro que, agregado a isto, a idéia de muito feio ou repulsivo). Porém, sabemos que isto é um padrão absolutamente relativo - tomando a beleza feminina como modelo, e analisando-a no decorrer da história, comprova-se isto com veemência. Este link exemplifica algo que cumpre alguns estatutos de beleza e no futuro próximo (agora, por exemplo) será visto como uma bizarrice dos nossos tempos.

A Bela e a Fera, de Jean Cocteau

Meu argumento é que a monstruosidade é cultural, social e pessoal, logo, não um valor universal (o que na verdade nada é, culturalmente falando) ou consensual. Que a Teratofilia seria um apreço intenso por estas rupturas, por esta diversidade formidável (veja post http://grupo-io.blogspot.com/2009/06/neologismo.html). Por sistemas e ordenações mais complexos de beleza. Também é considerável a influência no nosso imaginário estético dos deuses e criaturas fantásticas, teratônicas que herdamos da mitologia da antiguidade Suméria, Babilônica, Egípcia, Grego-Romana, das fábulas européias, dos quadrinhos de super-heróis ou do cinema. Podemos pegar um exemplo bem familiar, como a Bela e a Fera (que ficou notória pela versão da Disney). A Bela pode ser considerada uma Teratofílica (tu vê, heim?) Ou o filme Crash do David Cronenberg, pura Teratofilia
E não podemos desconsiderar a definição "Que excede tudo que se possa imaginar de mau" nesta argumentação.
A maldade tem seu inevitável grau de sedução. Um certo mistério desajustado e cruel com seu quê de Anjo Exterminador, presente, ora em doses homeopáticas, ora alopáticas, nas relações de sedução e no sexo em si, ecoando nas suas ordenações de poder e de dominação que são combustíveis do fetiche e com inclinação para serem fascinantes e sexy. O próprio demônio, com sua incontestável luxúria monstruosa, povoou o imaginário erótico de gerações de moças e senhoras de formação cristã. Logo, todo o mundo a leste da Rússia. Mais contemporaneamente, temos o fetiche por vampiros, criaturas que personificam os extremos de fascínio, medo, beleza, crueldade e poder.

Ío

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