Talvez o que mais caracterize a Ío seja o humor. Mas, certamente, um humor que não pode ser classificado como engraçado - de modo geral não tem força nem para arquear o canto dos lábios. Emprega a ironia como principal instrumento, mas também se apóia em oxímoros e humor negro. Mas o que nos interessa no humor é a apropriação da estrutura da piada. Isto é, uma narrativa inusitada que se constrói e subitamente tem um ponto inesperado de ruptura, onde normalmente está a graça e é o instante em que o ouvinte toma consciência das relações internas da piada. Não é casual que o Osho usava, com freqüência, piadas em suas palestras. A percepção de que uma piada é uma homeopática epifania, que tem estreita correlação com estados mais complexos de consciência como, por exemplo o kensho* budista ou a êxtase católica ou um It Lispectoriano, é o que nos interessa como método de uso. Uma percepção que ocorre em um tempo exíguo em que os múltiplos sentidos se conectam e que seja engraçado, mas sem graça, é nossa ambição. Vamos a uma análise de caso ilustrativa: no espetáculo SAÍDA DE EMERGÊNCIA, de 2004-06, havia um vídeo com o título quilométrico (referência humorística aos títulos de capítulos de Cândido, de Voltaire, ou Don Quixote, em que o enunciado de modo geral antecipa tudo que acontecerá no mesmo) de A Influência de Francis Bacon sobre os Veículos Automotores Brasileiros. Obviamente que Francis Bacon não é aquele precursor da ciência moderna (ao qual alguns maledicentes imputavam a obra de Shakespeare), mas o pintor. Em nossos translados a nosso retiro Garibaldense (uau, que bucólico), percebemos que os animais mortos e sucessivamente atropelados nas estradas acabavam tomando a forma de figuras à la Francis Bacon. Disto surgiu a disposição de fazer um vídeo com o irônico titulo supracitado, como se o pintor britânico influenciasse esteticamente os motoristas brazucas em suas ações assassinas motorizadas, tornando as estradas, assim, um amplo espaço expositivo, obviamente macabro.
Pós escrito:
Para aqueles que buscam significados transcendentais na Ironia ou na sincronicidade, no dia em que iríamos começar a gravação do vídeo, nossa gata Pimponeta foi atropelada e morta. Boa diversão aos que tem o hobby de procurar significados nas complexas relações aleatórias de eventos dissociados, e encontrar nisto um significado simbólico.
*Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do satori, que se refere a um estado de iluminação mais profundo e duradouro, o Kensho não é um estado permanente de iluminação, mas uma visão clara da natureza última da existência.
Pós escrito:
Para aqueles que buscam significados transcendentais na Ironia ou na sincronicidade, no dia em que iríamos começar a gravação do vídeo, nossa gata Pimponeta foi atropelada e morta. Boa diversão aos que tem o hobby de procurar significados nas complexas relações aleatórias de eventos dissociados, e encontrar nisto um significado simbólico.
*Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do satori, que se refere a um estado de iluminação mais profundo e duradouro, o Kensho não é um estado permanente de iluminação, mas uma visão clara da natureza última da existência.
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