sexta-feira, 28 de agosto de 2009

puro dispêndio



A arte e a necessidade
(Teixeira Coelho)

(...) Que arte serve para alguma coisa, que a arte tem utilidade. É isso que dizemos, de modo tático, aos políticos e empresários. A arte não serve para nada, a arte é inútil. Arte é puro dispêndio. Que bom. Os inimigos da "arte contemporânea" (no sentido de arte obscura, sem sentido) pensam atingi-la chamando-a de masturbação, essa também, do ponto de vista religioso, um desperdício por despejar no vazio a semente reprodutiva (o pecado de Onã). Na verdade, é um cumprimento à arte. Numa sociedade submetida à ideia da produtividade prometéica a todo custo (na verdade, ao menor custo ou ao custo dos outros), a arte como inutilidade é, para não dizer resistência, o que seria forte demais, pelo menos uma alternativa ao "sistema". É uma ironia e um paradoxo, claro, que o sistema gaste 5, 10 milhões de dólares numa bienal, com dinheiro das marcas mais divulgadas no mundo, para mostrar essa arte inútil. Mas, assim é. E é isso que permite a Richard Serra negar com veemência qualquer possibilidade de se considerar Frank Gehry, o arquiteto do Guggenheim-Bilbao, e de quem no entanto é amigo, o maior artista do século 20, como querem alguns. Por mais que a arquitetura contenha um elemento de arte (e como reproduzo aqui este juízo de valor, de algum modo o endosso - o que me valerá mais algumas inimizades entre os arquitetos...), sobre ela pesa uma enorme carga funcionalista e utilitária que não lhe permite considerar-se arte - não, em todo caso, do modo como se considera a "arte contemporânea". Reconhecer Frank Gehry como artista é contestar, a rigor, a ideia de autonomia da arte, tão duramente conquistada a partir das prisões de várias ditaduras e totalitarismos - a da Inquisição, a macarthista, a caribenha, a petainista, a pinochetista, a brasileira, a nazista, a fascista, a franquista, a salazarista, a soviética, a maoísta, a islâmica-fundamentalista e aquelas ainda em germinação (que as há, e como!). Os artistas não estão prontos a entregar a rapadura tão fácil assim, mesmo que a isca seja sedutora, como o é Gehry. (...)

Bravo! Novembro 2002, p. 18-19. José Roberto Teixeira Coelho é crítico de arte, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e curador-coordenador do Museu de Artes de São Paulo (MASP) desde 2006.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

figuras impossíveis

IN 1958, Lionel and Roger Penrose published a paper announcing their discovery of impossible figures, (Penrose & Penrose, 1958). These impossible figures formed a new class of visual illustrations, specifically demonstrating a foible in human perception of dimensionality in representations. If we are given a conflicting but balanced mix of visual clues, our logic in two-dimensional representations becomes overwhelmed, and we can easily be fooled about what is possible or likely in three dimensions. The rendered object, on the one hand, looks right; but on the other hand, our intuition tells us that something must be wrong and signals us to use our minds. Our faulty senses always win.


TEMPERFAKTOR
Eduardo Bichinho+Fernando Bakos

terça-feira, 25 de agosto de 2009

fotografia contemplativa

"O significado da palavra miksang em tibetano é 'bom olho'. Na fotografia contemplativa (como também é chamada) são critérios diferentes dos convencionais que levam o autor a disparar o clique. A proposta da fotografia miksang (baseada na meditação e concentração) é nos deixar mais atentos para o que nos desperta interesse. Ou seja, o clique só ocorre quando o coração é tocado. A técnica pode parecer estranha, mas no Japão é comum combinar a meditação com ações do dia a dia. Ela permite notar os milagres que acontecem em instantes e que normalmente passariam despercebidos." (Texto adaptado da edição 15 da revista Vida Simples, abril de 2004)

"O que é Miksang: Miksang palavra de origem tibetana, que significa 'olho bom' e é uma união de meditação e uma forma de arte (fotografia contemplativa). Miksang faz parte da Arte de Dharma. Seus princípios são baseados nos ensinos do mestre de meditação, professor e artista Chögyam Trungpa. Seus ensinamentos são direcionados para percepção da natureza e da arte contemplativa. Percebendo Miksang: Na infinita, vívida e rica simplicidade do mundo, encontramos as imagens Miksang. Podemos dizer que a parte 'bom' é o nosso Mundo, e a parte 'olho' é a prática da fotografia contemplativa. Juntando o bom e o olho, nós podemos ajustar as boas qualidades do mundo ao nosso próprio Mundo. Esta viagem é realmente simples de ser visualizada. Se abrimos os olhos para nossa consciência natural, teremos um momento da percepção fresca, vívida e desobstruída. Há, em nós, um desejo natural de comunicar essa experiência. O resultado dessa fusão da meditação com a fotografia são as Miksang. Aprendendo Miksang: Com os exercícios visuais e as atribuições fotográficas, o olho e a mente obtêm naturalmente uma sincronização, de modo que a experiência de ver possa ser sem preocupações, presente e atual. Vendo desta maneira, cada percepção é completa, não filtrada e integralmente contemplada. Visualizando Miksang: O mundo visual pode ser percebido diretamente, sem o fardo dos nossos habituais gostos e desgostos, das associações e das memórias, que levam a obscurecer uma percepção limpa da natureza e da realidade. Sem o preconceito visual, nós podemos dar forma ao equivalente, daquilo que nós vimos e queremos expressar, precisamente em cada uma de nossas percepções. Miksang é uma forma de se abrir para um consciente natural, fugindo de perguntas e dos porquês." (Fonte)

sábado, 15 de agosto de 2009

redondo ou...

Fantástica descrição da Wire Magazine - na lista de 150 Sonic Essentials and Aural Obscurities - para o Oval, projeto eletrônico alemão encabeçado por Markus Popp (foto abaixo) que é um dos cinco principais da avant-electronica: "Disturbing the smooth flux of electricity with tone poems wrung from scratched CDs. Serious head damage."



Existe uma seção do site da Wire Magazine só de listas, tanto as de melhores dos anos quanto algumas de todos os tempos, como por exemplo a lista mencionada acima, que é a menção mais completa que eu já vi do tudo o que é de fato importante para o apreciador de música... teratônica.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

+ 3 aulas de mr. lynch

"Quando se observa um prédio antigo ou uma ponte enferrujada, sabe-se que a natureza e o homem trabalharam juntos. Quando se pinta o prédio, a magia desaparece. Mas se ao prédio é permitido envelhecer, homem e natureza se unem então em trabalho - isso é muito orgânico. Mas em geral as pessoas não se interessam em permiti-lo."

"Algumas vezes as pessoas dizem que não conseguiram entender um filme, mas na verdade entendem muito mais do que percebem. E isso acontece porque todos somos abençoados pelo dom da intuição; nós temos realmente o dom de intuir as coisas. Embora alguém possa dizer que não entende de música, a maioria a vivencia emocionalmente e há de concordar que ela é uma abstração. Não preciso traduzi-la com palavras, basta ouvi-la. O cinema é muito parecido com a música."

"Todos nós enxergamos o mesmo mundo, mas temos idéias distintas sobre o que está acontecendo. O mesmo acontece num filme. Quanto mais abstrato, maior é a diferença de interpretações. Então é assim que funciona. O filme é o mesmo, mas os espectadores são diferentes, então o filme vai trazer à tona mais e mais coisas diferentes à medida que se torna mais abstrato."

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

o peso



"El peso es para mí un valor esencial; no es que sea más atractivo que la ligereza, pero sencillamente sé más sobre lo pesado que sobre lo ligero, y por tanto tengo más cosas que decir sobre ello, más que decir sobre …, los efectos psicológicos del peso, más que decir sobre los constantes y minuciosos reajustes del peso, más que decir sobre el placer derivado de la exactitud de las leyes de la gravedad." (Richard Serra, escultor)

mostrar as pedras

"Em uma aula, sendo perguntado sobre o significado de 'arte', o Agnaldo Farias mencionou o poema 'Catar feijão' do João Cabral [de Melo Neto - vide abaixo] sobre como as coisas estão aí como pedras e os artistas as tornam visíveis. Segundo ele, 'o artista dá a ver o problema, traz à tona aquilo que fica submerso para outros'." (Laura Davina)

1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

3 mestres noruegueses de obras planetárias


Brad Downey & Erik Tidemann - 'Bi-product of the process'



Rune Guneriussen

movimentos dessincronizados dos braços

Maria Makowska



Parque Eólico de Osório

terça-feira, 4 de agosto de 2009

mestre: pipilotti rist



Primeiro, teratonia em grau severo com I'm Not The Girl Who Misses Much, vídeo de estreia, em 1986, dessa artista suíça (ítalo-suíça?). Depois, trailer para uma exposição que a moça fez na FACT (Foundation for Art and Creative Technology):

pronto-feito

O objeto na escultura contemporânea
(Regilene Sarzi-Ribeiro)


Foi realizada . . . dia 18 de fevereiro em Madri, na Espanha, a Arco – 27ª Feira Internacional de Arte Contemporânea, que teve o Brasil como país homenageado. Entre os brasileiros participantes da feira estavam Cao Guimarães, Cildo Meireles, Ernesto Neto, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Tunga, Vik Muniz, Marepe e Sandra Cinto.

A crítica discutiu durante a Feira a posição da arte contemporânea brasileira no circuito internacional, as relações de mercado e as características das obras e dos artistas que participaram da feira e que receberam destaque. Galerias de arte e críticos acreditam que a produção contemporânea brasileira tem apresentado ao mundo obras ímpares, as quais desmontam vários clichês sobre o nosso país.

Diante dos debates e argumentações uma obra me chamou muito a atenção e foi nela que me inspirei para escrever este ensaio. Trata-se de uma “escultura” do artista plástico Marepe intitulada Edifício Pá (2007). Sua peça, composta de um conjunto de pás de lixo de plástico coloridas sobrepostas, me fez refletir sobre os procedimentos da escultura moderna, sobretudo as alterações ocorridas com a linguagem escultórica, como o uso de materiais industrializados e os novos modelos operatórios. Neste sentido, quero enfatizar a apropriação de objetos do cotidiano como matéria prima e a ambientação espacial comum às instalações, entre outros elementos visuais, que foram sendo assimiladas pela linguagem tridimensional. (...)

Se antes os procedimentos mais comuns à escultura eram esculpir, modelar e fundir, agora os artistas passarão a manipular a matéria escultórica por meio de outros procedimentos, tais como construir, modular e ambientar, conforme afirma Laurentiz (1988). Aliados a outra atitude de ordem conceitual, que introduziu no espaço escultórico os objetos do cotidiano, objetos comuns. Refiro-me aos ready-mades de Marcel Duchamp, um dos protagonistas da escultura moderna. Os ready-mades (feitos à mão, prontos) de Duchamp, guardados os aspectos de ordem política contra o sistema da arte e às instituições culturais, contribuem de maneira significativa para que os escultores passem a se apropriar de qualquer objeto ou materiais, fazendo deles um “objeto”, agora atribuído de significados estéticos.

Observem agora a obra de Marepe. Após essas breves considerações sobre a escultura moderna, vejamos o quanto é interessante a apropriação que este artista faz de um objeto corriqueiro: uma pá de lixo.



Trata-se de uma escultura-objeto no formato de uma torre composta de pás de lixo de plástico de várias cores. São 70 pás, sobrepostas, todas do mesmo tamanho. A disposição das cores nos remete às teorias das cores e as relações tonais. O amarelo bem abaixo, próximo ao chão, mais luminoso, claro, amplia o espaço pressionando nosso olhar para o alto da torre, onde se encontram o maior número de pás verdes, mais escuro, menos luminoso. Mas o verde está restrito entre duas cores complementares formadas por um conjunto de pás de cor laranja e outro azul, que por atração comprimem o espaço entre elas.

Esse jogo cromático é responsável por prender nosso olhar, que sobe e desce pela torre de plástico em busca da harmonia entre os tons. Mas, ao nos deparamos com a materialidade da obra, objetos de plástico, e o que representam esses objetos acumulados, essa magia das cores é interrompida.

Marepe se apropria das pás de plástico para realizar uma construção espacial por meio de módulos e ambientar um objeto, um ready-made. Se pesquisarmos outras obras deste artista, veremos o quanto esta obra é coerente com as suas mais recentes produções, marcadas por este acúmulo de materiais e por construções tendo objetos cotidianos como matéria-prima. Como um telhado feito com telhas verdadeiras ou o conhecido carrinho de madeira, exposto no Panorama do MAC, em 2007, em São Paulo.

Interessante notar que o título dado por Marepe à obra, Edifício Pá, nos remete às questões espaciais e às relações da construção tridimensional com a arquitetura e, ainda se assim a concebermos, às apropriações de objetos comuns do dia-a-dia como objeto artístico. A presença física da obra discute o espaço. Seu aspecto concreto se impõe como uma estrutura espacial idealizada e produzida pela ação simples, porém não menos complexa, de juntar, acumular, sobrepor, um conjunto de 70 pás de lixo.

Quem observa a obra e desconhece todos os procedimentos conceituais que cercam o processo criativo do artista, pode pensar que é uma obra simples, afinal é só um “monte” de pazinhas de lixo colocadas uma acima da outra. Mas basta aprofundar a pesquisa sobre as obras de Marepe e comparar com as obras de escultura contemporâneas para se perceber o quanto são sutis suas intervenções. (...)


Wikipédia:

O ready-made se caracteriza por uma operação de sentido que faz retornar o literário ao problema da arte, contrariando a ênfase modernista na forma do objeto artístico. O conceito de alegoria retorna na forma de uma operação que a materializa concretamente. E ao adotar tal operação de sentido, Duchamp termina por implicar mais que a obra de arte; é necessário tratar de toda a constelação estética que envolve a obra e da conjuntura de sentido que a produz, mas também a que a sustenta e sanciona. (...) Ao longo de seu trabalho, Duchamp termina por qualificar a produção de ready-mades. A expressão se refere primariamente aos objetos que não sofreram transformação formal. Na qualidade de objetos, assim, de algum modo transformados, temos os ready-mades ajudados, retificados, corrigidos e recíprocos, segundo o modo pelo qual sua forma sofre interferência por parte do artista.

sábado, 1 de agosto de 2009

convergente x divergente



O psicólogo americano Joy Paul Guilford (1897-1987) desenvolveu no final dos anos 40 um modelo de entendimento humano que serviu de fundamento à pesquisa moderna sobre a criatividade. O ponto decisivo na concepção de Guilford foi a distinção entre pensamento convergente e divergente.

O pensamento convergente visa diretamente a uma única possibilidade correta de solução para determinado problema. Já o divergente seria o raciocínio criativo.

Segundo Guilford, em primeira linha os testes de QI exigem pensamento convergente. Afinal sempre se trata de procurar, com auxílio da lógica, uma solução ortodoxa que se possa classificar como certa ou errada, de modo claro.

No entanto, pessoas criativas destacam-se sobretudo porque seu intelecto, ao confrontar-se com um problema, supera os esquemas mentais já arraigados e trilha novos caminhos. Guilford definia a criatividade justamente como a capacidade de "encontrar respostas inusitadas, às quais se chega por associações muito amplas". E aqui entra em cena o pensamento divergente, com a finalidade de produzir diversas soluções possíveis. "No pensamento divergente avança-se para muitos lados. Tão logo seja necessário, ele muda de direção e leva com isso a uma pluralidade de respostas que podem ser, todas elas, corretas e adequadas", explicou em 1950.

Sobre o conceito de pensamento divergente, que ainda continua sendo bastante nebuloso, os especialistas definiram até hoje pelo menos seis traços característicos:

Fluência de idéias: aspecto quantitativo da criatividade, ou seja, quantas idéias e associações ocorrem para determinada pessoa, por exemplo quando se apresenta a ela um novo conceito.

Pluralidade, flexibilidade: o critério aqui é encontrar o maior número possível de soluções diferentes.

Originalidade: aspecto qualitativo da idéia, ou seja, a capacidade de desenvolver possibilidades de solução peculiares, às quais nem todos podem chegar.

Elaboração: define o talento de formular uma idéia e continuar desenvolvendo-a até que se torne solução concreta para um problema.

Sensibilidade para problemas: capacidade de perceber uma tarefa como tal e ao mesmo tempo identificar as dificuldades associadas a ela.

Redefinição: dom de perceber questões conhecidas sob um novo viés. A decomposição de um problema sob aspectos parciais muitas vezes ajuda a ver as coisas sob uma luz totalmente nova.

Fonte: Revista Mente & Cérebro

bissociação



Definição. A bissociação é a técnica mentalsomática associativa decorrente da justaposição de uma idéia ou constructo básico com vários outros de diferentes campos não relacionados para produzir descobertas, inovações, invenções e captação de neoidéias ou potencialização da criatividade.

Sinonímia: 1. Técnica associativa do pareamento conceitual. 2. Associação biconceitual. 3. Justaposição aleatória. 4. Correlação inteligente. 5. Liberdade pensênica. 6. Combinatória lexical.

Antonímia: 1. Repetição. 2. Monotonia. 3. Prisão pensênica.

Etimologística. O termo bissociação foi proposto por Arthur Koestler no livro The act of creation.

Fonte: Conscienciopédia